Friday, October 14, 2011

Limites

Parece que o mundo está em euforia. Em todo o lado é luzes, cores, acção. Toda a gente quer novo, mais, melhor. Já ninguém fala de forma honesta. Ninguém pode estar só, triste ou perdido. Não, tem de ir beber uns copos, ou até ao SPA, porque se vai sentir melhor.
O que foi feito dos bares com música ao vivo, melancólica, triste, onde as pessoas iam no final do dia beber um copo e "afogar as mágoas"? Ao bom estilo dos anos 20. Hoje toda a gente sai para se divertir imenso, beber até à exaustão e mostrar-se o melhor que souber, como que para avaliar a sua própria quota de mercado.
Hoje, toda a gente é uma personagem de cinema, que faz questão de expor a sua personalidade complexa, e as suas mágoas já superadas, porque são fortes, mas que causaram muita dor, em tempos.
O António Lobo Antunes diz não perceber as pessoas que dizem que não gostam de pessoas, mas sim da humanidade. Eu não gosto nem destas pessoas, nem desta humanidade.
Em que pessoas nos tornamos, que vamos ao cabeleireiro para ir a um jantar, que viajamos porque é moda, e que lemos porque é sinal de cultura, que tiramos fotografias para pôr no facebook, porque tudo o que temos é uma imagem pública?
Que pessoas são estas que expõem tudo, tudo! Que criam verdadeiros alter-egos para sobreviver, que se entranham tanto naquelas personalidades, que passam a ser a única coisa que possuem?
Que pessoas são estas que tratam as pessoas como descartáveis, pois ou convêm ou são inconvenientes?
Que sadismo é este? Porque nos respeitamos tão pouco? Porque desrespeitamos tão gratuitamente? Que mal nos fizeram?
Que pessoas somos que substituímos pessoas por conceitos virtuais, relações reais por abstractas ou indefinidas? Onde vamos? Onde queremos ir?
Até onde vai o limite da liberdade? O que faz a falta de limites?