Friday, March 16, 2012

Se eu pudesse...

Se eu pudesse, não vivia nesta época. Vivia há 30 anos atrás, quando as pessoas ainda eram reais.
Como fazer para viver numa sociedade onde ninguém sabe o que quer, mas toda a gente acha que sim? Como entender que a falta de critério seja vista como liberdade?
Que sociedade é esta que, mais do que nunca nos bombardeia com tudo o que é suposto fazer e dizer, e onde nunca as pessoas pensaram tão pouco?
Como perceber que os seres cortejados pela sociedade sejam pequenos arrogantes e insolentes, porque, isso, é ter uma personalidade forte?
Não sou uma pessoa do meu tempo. Sou uma pessoa que adora ficar horas a ouvir os mais velhos a contar histórias, e que releva o que putos insolentes têm para mostrar(Mostrar...lá está... a filosofia da década.... tudo é para mostrar... o corpo, os amigos, as roupas, as fotos, as viagens para o facebook, as experiências de que não temos de ter vergonha... se calhar temos).
Voltando... sou uma pessoa que adorava ter crescido naquele tempo em que as mulheres já iam aos bares, ouvir um piano e dançar, sorrindo. Os homens, pagavam a bebida à mulher que tivesse o sorriso mais bonito, na expectativa de que ela estivesse disponível para uma agradável conversa e, quem sabe, ter uma relação. Na minha época, as mulheres saem com ar de saldo, raramente a sorrir (genuinamente, com o olhar), e os homens, como perderam a necessidade da caça pela alimentação primária, saem com ar de quem tem fome... muita.
Estamos na geração em que fazemos de conta que a liberdade é a melhor coisa do mundo, mas não sabemos porquê. Até porque não conhecemos o regime fascista. Passamos a vida em busca de afectos, mas nunca de compromissos. Parece-me a mim que, por vergonha.
Gostava ainda de uma sociedade que soubesse optar. Não podemos ter tudo. Nem devemos. Quando tivermos tudo, a nossa existência enquanto espécie evolutiva (será?), deixa de fazer sentido. Mas não. Nós, a geração que não trouxe valor acrescentado nenhum ao mundo, e que vibra por um jogo de bola, provocando verdadeiro levantamento de rancho por um resultado que não muda absolutamente nada na nossa vida, não é capaz sequer de votar no dia em que vamos decidir quem nos governa. Porque "política não é comigo". Mas história também não é, pelo que, passado e futuro, também não será... vivemos o presente, tal e qual as mosquinhas que comem o cócó feito pelas outras espécies.... Pois... para mim esta é mesmo a geração mosca. Como viemos aqui parar... não sei. Mas se não sairmos daqui depressa, ó deuses do Olimpo, exterminem-nos!
Ah, só para futuro... porque com a história das tecnologias, daqui a 100 anos alguém pode ler isto... Esta é também a era em que, escrever bem a nossa língua mãe não é importante... importante é saber línguas estrangeiras e escrever com k e lol... assim, estaremos integrados.
Podia ficar aqui horas a debitar o que me irrita nesta era, e posso... a não ser que o sono me impeça.
É a geração em que opinamos muito, mas sabemos muito pouco. Fazemos muito, mas pensamos pouco. "Achamos", com naturalidade, coisas que deveríamos saber, ou ter a humildade de reconhecer que não sabemos.
Talvez pela influência do marketing, e das marcas, em que nada dura muito tempo, tratamos tudo como descartável. Oiçam as pessoas mais velhas e verão que, um telefone dava para a vida toda, bem como um televisor... assim dava um amigo, um marido... Enquanto não trocarmos os irmãos, vamos indo... (mas já escolhemos o sexo dos filhos).
Não gosto de pessoas... não gosto. Em 100 que conheço, talvez goste de uma (média inflacionada pelo copo de vinho que bebi). Provavelmente, o problema está em mim. Devo ter de ajustar expectativas. Mas se as ajustar ao nível necessário para ficar satisfeita, vou pedir ao Olimpo para mudar de espécie... na dos cãezinhos talvez... Pelo menos esses abanam a cauda de contentes e são fiéis ao dono.
Ainda para referências futuras... nesta era, não ser inteligente ou sensível é bom. Estamos na era em que se substitui o "ser" pelo "ter". Se tiver muitas coisas, sou algo. Pronto... é assim, mas eu não entendo. E... mais importante ainda, é preciso ter tudo, rapidamente. Não podemos esperar, fazer por isso, sentir o sabor da conquista que leva meses ou anos... não. É preciso ter, já!
De vez em quando sinto-me fraca. Fraca por ter perfeita consciência que abomino esta forma de estar que aqui descrevo, e que, a cada passo ela me acontece.
Mas sei que, mesmo quando me acontece, não faz parte de mim. Com o tempo, acontece cada vez menos...