Sunday, December 25, 2011

Natal

Aproximava-se, e eu fazia de conta que não o via chegar. Vai a passar por mim, de frente na rua, e eu olho para o lado, muito interessada na montra de flores e arranjos, e distraída como sou, é fácil acreditar que não o vi.
Vou a sair do trabalho, para mais um fim-de-semana, e só quero descansar. Sou forçada a participar numa manifestação de boas festas digna de um óscar. Participo, como se fosse paga, e desempenho. Ufa! Acabou. Saio finalmente, fecho porta, ligo alarme, e penso: finalmente em paz!
Chego a casa, de pantufas e roupão, deito-me a ver televisão. Estou cansada, não gosto da programação, e adormeço. Acordo, em sobressalto, com o telemóvel. Percebo, e fico a ouvir Pink Floyd até se cansar de tocar. Pára. Volta a tocar, e penso, vou retirar o som. Depois penso, mas vou ter que devolver chamadas e gastar dinheiro. Deixa ver... Mais boas festas e natais felizes. E penso então que não posso fazer de conta que não o vejo, não para sempre.
Nunca gostei dele, mas agora nutro ódio.
No Natal, quem é pobre, sente-se mais pobre. Quem está triste, sente-se mais triste. Quem está só, sente-se mais só. Quem está doente, sente-se pior. Só mesmo a espécie humana para ter a capacidade de criar uma comemoração mãe, em que todos os desafortunados se sentem mais desafortunados.
Mais uma vez, porquê tanta necessidade de partilha e generosidade nesta época? Será por sabermos o mal que ela faz a alguns?

Sunday, December 11, 2011

Lá fora os carros buzinam incessantemente. Na rua que digo ser minha, não estou habituada. Provoca-me um nervoso miudinho, que se agrava, ao fim de meia-hora. O Domingo quer-se sossegado, e o silêncio deveria ser obrigatório e sagrado. Faz-se uma corrida, cortam-se ruas sem alertar, porque a estrada é pública, e portanto, alguém considera isso sensato, ou então, alguém se esqueceu de pensar nisso. A liberdade acaba onde começa a dos outros. E neste momento, a minha liberdade está condicionada ao nervoso miudinho provocado pelos condutores enervados que buzinam como se a corrida fosse terminar por isso, provocado pelo fulano que cortou a minha estrada ( e daquelas pessoas todas) sem avisar.
Sensível, ah?
Sinto saudades de me apaixonar. Saudade de me entusiasmar com o telefone a tocar, a hora que nunca mais chega, o tempo que só passa quando estamos juntos.
Saudades de sentir que é realmente “ali” que quero estar. Com aquela pessoa. E parece que então, o mundo faz sentido, e a vida é doce e entusiasmante, de uma forma única.
A sensação dos braços que são o melhor lugar do mundo para se estar, os reencontros, as descobertas apaixonantes. As memórias repetidas como que em película de cinema, com fast and forward, vezes e vezes sem conta. E cada uma delas provoca um aperto, duma intensidade e sabor únicos, a cada repetição.
E parece que o tempo nunca é demais, e só se olha para o relógio para tentar ficar mais um pouco.
As promessas, os olhares intensos, os sorrisos cúmplices, e as soluções para tudo, enquanto houver vida.
Nesse tempo, o passado não tem presença, e por isso, os medos e fantasmas não têm lugar.
Disso, não consigo abdicar.

Sunday, December 4, 2011

Fica mais um pouco

Parece que toda a gente acha bem termos uma vida social, sim, porque somos seres sociais e a sociedade faz-nos falta. Mas mesmo que tentemos, não iremos conseguir deixar de ter vida social. Não podemos viver numa caverna.
Mas que raio de vida social é esta, das noites nos bares, com música berrante, fumo intoxicante, vestidos reluzentes e ninguém a falar com ninguém? E ficamos mais um pouco, porque ainda é cedo para ir para casa. É cedo para acabar com uma coisa que não dá prazer nenhum, e com a qual não ganhamos nada. Não percebo. E fico mais um pouco e tento perceber a motivação de quem me pede para ficar mais um pouco. Olho à volta, e toda a gente olha à volta. Depois cruzam-se uns olhares, de pessoas que nunca vou querer conhecer, pois não gosto de pessoas que se vestem daquela forma. Não sei como sei, talvez por associação a outras pessoas que tive de conhecer, e que se vestiam daquela forma.
Penso no que gostaria realmente de estar a fazer. Várias coisas, mas essencialmente a dormir. É tarde, tenho sono, frio, e detesto o cheiro a cigarro. Podia estar a dormir.
Espero mais um pouco e olho para o copo da bebida que já terminei. Não quero outra, porque quero estar preparada para ir embora, e pedir outra bebida iria comprometer-me em mais meia hora, pelo menos.
Olho à volta, e penso nas reais motivações para estar ali. As pessoas dizem que só saindo conhecermos pessoas novas. E parece que quero conhecer pessoas novas. Na realidade não quero, até porque não aprecio assim tanto as pessoas no geral. Quero conhecer alguém, como a maioria das pessoas que ali está. Aquela pessoa em particular com quem vamos querer partilhar a vida. E como é que isso se faz? Ao que parece é saindo… Pois, em casa, só se for o homem das pizzas.

Sunday, November 20, 2011

Velhos amigos

Hoje tive um encontro virtual muito feliz. Decidi ficar por casa para aproveitar o silêncio de um serão sem pressa de dormir. Ao fazê-lo fui presenteada com duas conversas deliciosas, com pessoas que cruzaram a minha vida na mesma altura e por quem sinto uma ternura do mais puro e genuíno.
Curioso, raramente falo com eles, e hoje, falei com os dois em simultâneo. Foi um pequenino regresso ao passado, com sabor a conversa de café de sábado à noite.
Em breve tenciono visitá-los pessoalmente à terra das tulipas, que é só a minha flor de eleição. :)))

O "in" das relações

Será que alguma vez o amei realmente? Ou terei amado a ideia de ter algo tão inatingível? A linha entre as duas ideias parece bastante difusa. Não consigo distinguir o que era mais fascinante. A ideia de conhecer um mundo novo, o facto de saber que não lhe devia pertencer, ou a pessoa com quem o queria fazer.
O mundo das relações é um conjunto de vontades, desejos, necessidades, personalidades, que torna tudo muito complicado de definir.
Conhecendo a mim própria, dentro do possível, conheço também a minha vontade de ter o inalcançável. Conheço ainda melhor a minha reacção quando me dizem que é impossível. E só sei parar quando tiver conseguido. Será que foi o que fiz? Será que não segui obstinadamente uma conquista impossível, só para provar a mim mesma que conseguia?
Cada relação é feita de momentos. Momentos entre as partes, e momentos de cada uma das partes. Os sentimentos de tristeza, fragilidade, abandono, desenham momentos do próprio que condicionam a relação das partes. Noutro contexto, teria eu tido as mesmas atitudes?
Porque decidi manter as amarras para ser chicoteada? Sim porque, embora o chicote estivesse na mão de outra pessoa, eu escolhi continuar presa. Será ainda por pensar que nada é pior do que não ter nada? Mas não é. Sem nada estava eu a ficar. Sem dignidade sequer.
Aprendi a não correr atrás do impossível. Porque o impossível existe e é ditado por uma das partes. Unicamente por isso.
Aprendi ainda que não sou uma pessoa do meu tempo. Não estou preparada para relações indefinidas, invulgares, ou mascaradas de qualquer outro “in”, ou qualquer outra cor que não a da sinceridade.
Não me considero uma pessoa romântica, mas tenho sentimentos nobres. E não me identifico com as indefinições que as pessoas atribuem às relações, que não passam de caprichos de quem tudo quer só por querer.
Apesar de tudo, acredito no amor, e é essa partilha que procuro.

Friday, November 4, 2011

Curioso constatar que todos os dias o meu blog recebe visitas...
Serão visitas de acaso? Ou de caso?

Friday, October 14, 2011

Limites

Parece que o mundo está em euforia. Em todo o lado é luzes, cores, acção. Toda a gente quer novo, mais, melhor. Já ninguém fala de forma honesta. Ninguém pode estar só, triste ou perdido. Não, tem de ir beber uns copos, ou até ao SPA, porque se vai sentir melhor.
O que foi feito dos bares com música ao vivo, melancólica, triste, onde as pessoas iam no final do dia beber um copo e "afogar as mágoas"? Ao bom estilo dos anos 20. Hoje toda a gente sai para se divertir imenso, beber até à exaustão e mostrar-se o melhor que souber, como que para avaliar a sua própria quota de mercado.
Hoje, toda a gente é uma personagem de cinema, que faz questão de expor a sua personalidade complexa, e as suas mágoas já superadas, porque são fortes, mas que causaram muita dor, em tempos.
O António Lobo Antunes diz não perceber as pessoas que dizem que não gostam de pessoas, mas sim da humanidade. Eu não gosto nem destas pessoas, nem desta humanidade.
Em que pessoas nos tornamos, que vamos ao cabeleireiro para ir a um jantar, que viajamos porque é moda, e que lemos porque é sinal de cultura, que tiramos fotografias para pôr no facebook, porque tudo o que temos é uma imagem pública?
Que pessoas são estas que expõem tudo, tudo! Que criam verdadeiros alter-egos para sobreviver, que se entranham tanto naquelas personalidades, que passam a ser a única coisa que possuem?
Que pessoas são estas que tratam as pessoas como descartáveis, pois ou convêm ou são inconvenientes?
Que sadismo é este? Porque nos respeitamos tão pouco? Porque desrespeitamos tão gratuitamente? Que mal nos fizeram?
Que pessoas somos que substituímos pessoas por conceitos virtuais, relações reais por abstractas ou indefinidas? Onde vamos? Onde queremos ir?
Até onde vai o limite da liberdade? O que faz a falta de limites?

Thursday, September 15, 2011

A minha viagem

Estou a horas de fazer a minha primeira viagem a sós.
Embora não esteja com sinais de nervoso miudinho, não consigo dormir :) É o entusiasmo de um passo que pensava dar há muito tempo, e que pelas mais diversas razões, só agora aconteceu.
Digo a 'minha primeira viagem a sós' porque sei que outras se seguirão.
Até aqui sabia o porquê da viagem ter obrigatoriamente um regresso. Agora não sei...

Friday, September 9, 2011

Esta noite quis parar o tempo. A noite estava quente, o teu colo aconchegante. O teu perfume misturado com as flores dos imensos jardins à nossa volta. Ouvir-te dizer que não havia nenhum lugar melhor para estar.

Há muito não olhava as estrelas, mas na tua presença faz mais sentido.
Quis parar o tempo, pois não havia outro lugar no mundo onde quisesse estar.
E queria perpetuar...
Hoje alguém me disse: "És a minha versão feminina". Alguém que eu considero ser a minha versão masculina.
Quais as probabilidades?

Deliciosamente indomável

Não é todos os dias que conhecemos alguém que nos marca. São poucos os dias da nossa vida em que alguém nos é apresentado e faz a diferença.
E quando percebemos que faz a diferença, ainda receamos, criamos barreiras, distâncias de segurança, muletas. Temos medo do que pode acontecer, do que podemos sentir.
E esses dias, por serem tão poucos, são tão preciosos, tão abençoados, que só deveriamos querer agarrá-los e segurá-los para sempre, para que aquelas sensações se pudessem manter imaculadas. Mas não conseguimos segurá-los, nem afastá-los, nem resistir-lhes. A vida tem o seu rumo, por vezes curioso, irónico, cruel, deliciosamente indomável. Não há muito que possamos fazer para controlar essas sensações... que se vão transformando em sentimentos, e que deixam essa marca indelével na nossa vida.
Não são muitas as pessoas que o conseguem, e essas, escassas, passam a merecer lugar de destaque para sempre. Seja na rotina, seja na memória.

Sunday, August 14, 2011

Os 30


Os 30... comentados desde sempre, como um marco, como um limite, como uma mudança... como um sem fim de coisas sempre negativas.
Chegaram hoje, com bastante tristeza à mistura, mas não por si. Pelo facto de não ter a pessoa mais importante para mim aqui. Porque me concebeu, fez de mim quem sou, e não está cá para me continuar a ver crescer.
Não há maneiras fáceis, nem frases feitas que ajudem a lidar com a perda. Há apenas o sentimento de injustiça, de vazio, de abandono.
Pai, estiveste comigo o dia todo, embora esteja privada de te abraçar. Se estivesses aqui, diria-te apenas: Obrigada por fazeres de mim quem sou.
Sou alguém de bem com os 30. Ou melhor, os 30 ficam-me bem.

Friday, July 8, 2011

Hoje ouvi uma pessoa de 26 anos dizer "a minha mãe ameaçou cortar-me a mesada". E é aí que eu percebo o quão alheada vivo deste mundo, desta sociedade.
Essa pessoa, não tão invulgar assim, é simplesmente alguém que se licenciou e não consegue emprego na área, ou seja, uma pessoa igual a milhares. É 3 anos mais nova do que eu, e prepara-se para deixar de receber mesada 14 anos depois de mim. 14 anos???!! E é aí que percebo novamente o quão distante estou.
E não, não foi porque tive sorte. Ninguém que começa a trabalhar aos 15 anos tem sorte, certo? A verdade é que agora, aos 30, trabalhei 50% dos anos que vivi. Pouco comum aos 30. E será pouco comum aos 40 até, uma vez que já ninguém começa a trabalhar aos 20.
Como posso eu perceber de que forma estas pessoas (a minha geração) vêem a vida? Como posso conceber que alguém se considere infeliz, ou desafortunado, por deixar de receber mesada aos 26? Aos 18 muitas vezes não sabia como iria pagar a renda, ou juntar dinheiro para uns óculos novos (e não eram de sol).
E como podem eles entender a minha forma de ver a vida? Talvez por isso me sinta sempre bastante mais velha, mais experiente, e anos-luz à frente. Talvez por isso aprecie tanto as gerações mais velhas, pois é com elas que me identifico.

Thursday, June 30, 2011

Às vezes parece que a vida se esforça por ser tão injusta. Sei que nunca ninguém disse que seria justa, mas nem só de vez em quando!?
Já chegava de sacrifícios, de perdas, de sofrimento.
De que serve pensarmos que a vida é mesmo assim, que coisas más acontecem a toda a gente, e que todos sofrem, quando olhamos para o lado e vemos gente que tudo tem, tudo consegue, e a principal preocupação é onde vão passar férias no próximo ano? E depois, vemos que é assim, ano após ano...
Também já tentei a estratégia de pensar que a vida se encarrega de nos dar os desafios para os quais estamos preparados. Não concordo... acho que nos aguentamos à barra, enquanto houver um motivo.
Não me sinto uma coitadinha, nunca senti, nem aprecio quem assim se vê. Nunca baixei os braços, e continuo a apreciar as coisas boas da vida. Mas que não é justa, não é.

Tuesday, June 7, 2011

Só tenho medo de te perder para sempre. De esquecer os traços do teu rosto, a forma como me olhavas, o teu tom de voz. Queria eternizar-te como te sinto neste momento.
Vou ter saudades das tuas gargalhadas, da tua preocupação comigo, da tua paciência e tolerância. Quero aprender contigo, mas acima de tudo, queria a certeza que daqui a 20 anos me vou lembrar da tua voz, do teu sorriso e do teu cheiro.
Foste e serás a pessoa mais importante da minha vida. Foi contigo que cresci, e é, sem dúvida nenhuma graças a ti que sou quem sou. E sim, orgulho-me disso, e orgulho-me também muito quando me dizem que "saio ao meu pai". Aliás, não há nada que me deixe mais feliz. Espero que também daqui a 20 anos me digam que vivi como o meu pai. Terei muito orgulho nisso.
Sinto saudades também de te passar a mão no cabelinho, para que estivesses sempre penteadinho. Sinto saudades de cuidar de ti, de te ter aqui...

Saturday, May 14, 2011

Ruído

Tanto ruído, vem de todo o lado.
Entra na minha cabeça e faz-lhe dar voltas e mais voltas.
Quero fugir, encontrar o silêncio, a paz, a serenidade. Mas não consigo.
Febre, mal estar, dores de cabeça e no corpo. Como se eu própria me flagelasse.
Não é possível remar contra a torrente das fatalidades.
Não é possível esquecer tudo por momentos, como se diz por ai...

Sunday, April 17, 2011

Bandas sonoras

What if...
Se tivesse que escolher uma banda sonora para a minha vida, qual seria? Como seria?

Algo com violinos e o som do piano. Teria uma lead como no jazz, um ponto de partida para o improviso. O leitmotiv seria a paixão... tocada pelos mais variados instrumentos, com diferentes ritmos e melodias.
Se houvesse um canto, seria limpido, vibrante.
O ritmo seria incerto, como num nocturno, em que as notas correm a velocidades diferentes, mas correm... intensas.
Das teclas constantes do piano, como passos firmes e constantes, às cordas dos violinos errantes, incertos e inconstantes.
Ritmos flutuantes, de serenos e felizes, a profundos e volúveis, mas apaixonantes.

Monday, April 11, 2011

Não consigo dormir.
Já li tudo o que havia para ler sobre SMD, na expectativa talvez de que ler traga a cura para a doença.
O sentimento de impotência é grande e não é fácil ver sofrer quem mais amamos.
Por mais voltas que dê, não há prognósticos favoráveis, e pensar que a normalidade vai voltar, é pura ilusão.
Mesmo sabendo que assim é, ficar quieta e calada é o pior que me podem pedir. Mas também não posso fazer mais nada.
Devia conseguir dormir normalmente, viver normalmente, para estar bem e ajudar a minha família. Mas não consigo.
O tempo não passa, e para melhor não vai.
Não estou serena de forma nenhuma, em lado nenhum, em tempo nenhum.
A ansiedade aumenta, os nós no estômago, e só quero que os fins de semana não cheguem. Não é egoísmo? É não querer confrontar-me com mais desânimo, mais abatimento.
Se houvesse uma única coisa no mundo que pudesse fazer!
Não é justo... não é nada justo.

Saturday, April 9, 2011

:)))

Sunday, April 3, 2011

Perda

Haverá algum sentimento pior do que ver alguém que amamos desaparecer?
Desaparecer aos poucos, com a destruição do próprio corpo, das próprias células.
Não há alma nem força interior que resistam à soberania dum corpo doentio.
É nessa altura em que sabemos que a nossa vida nunca mais será como dantes.
Uma grande parte dela está prestes a morrer, a ser apenas uma recordação.
E não há pensamento filosófico nenhum que torne as coisas mais suportáveis, ou aceitáveis.
Não há deus que conforte. Aliás, eu que nunca acreditei na sua existência, agora penso que se de facto ele existe, devia ter vergonha do que anda a fazer...
Se é para ser cada um por si, e se não é suposto haver um mínimo de igualdade, ou de oportunidade à partida, se é para andar meio mundo a servir outro meio, e a espezinharmos uns os outros, então não precisa de existir...

Friday, April 1, 2011

Cansaço

Estou tão cansada, tão sedenta de silêncio.
Estou cansada no mais puro sentido da palavra.
Estou tão cansada que o meu cérebro se recusa a pensar mais um segundo, as minhas expressões faciais estão reduzidas ao mínimo e as minhas palavras a nada.
Passo o dia a comunicar, das mais diversas formas. Em tudo o que digo e deixo por dizer, faço ou não faço, sorrio ou mantenho-me sisuda, em tudo isto, passo uma mensagem.
Mas se estou cansada, porque venho "comunicar" por este meio? Talvez por aqui ter a liberdade de comunicar só o que me apetece, e sem receber feeedback.
A interpretação do feedback consegue ser um processo ainda mais cansativo do que a comunicação per si. Percepcionar, analisar, avaliar... para voltar a reagir, ou seja, comunicar.
Neste momento, pouca coisa me saberia melhor do que ficar em silêncio absoluto. Talvez um Chopin, com um copo de vinho e um colo silencioso. Mas nada mais efusivo do que isso.

Thursday, March 24, 2011

Sweet tides...

sweet tides, pools of love
your eyes are full of.......
sweet tides, pools of love
your eyes are full of.......

sharp turn, my mind is a blur
slow passage thru the air
looking back on the days
all over your mind, just wanna be free

(Lyrics from Sweet Tides, Thievery Corporation)

Saturday, March 19, 2011

A nossa casa

Há dias em que a nossa casa é o melhor sítio do mundo para estar.
Se hoje me oferecessem uma viagem a um sítio qualquer do mundo, duvido que aceitasse.
O conforto das pequenas coisas... tomar o pequeno almoço com aquelas medidas de café e de açúcar e na minha caneca, a minha gatinha a miar e o pêlo fofinho dela na minha pele, o sofá com a minha mantinha, os meus chinelos, os meus cheiros e sabores.
Também não há nada como o conforto da minha cidade. Desde os tasquinhos onde se come bem, aos tasquinhos onde encontramos os amigos. Do sapateiro à costureira que já nos conhecem e preparam as coisas para a "menina Cidália levar antes do fim-de-semana", a pastelaria que já sabe como gostamos do pão. A oculista que faz sinal para entrar porque recebeu óculos que vamos achar o máximo. Os memoriais que se revelam nos trajectos, nos bancos de jardim, nas ruas... O sítio onde temos sempre uma mão amiga, uma rua conhecida, um rosto familiar.
Se alguém me perguntar o que tem Braga para eu ser tão apaixonada por ela, eu respondo que tem tudo isto... Ou então digo apenas "nada de mais".
Embora não tenha nascido ou crescido cá, estes últimos 10 anos fizeram com que Braga se tornasse na minha casa, pois é o sítio onde tudo isto existe para mim.
Braga não tem grandes monumentos, nem praias fabulosas, não é um destino cultural, turístico, etc, mas é sem dúvida, o melhor lugar do mundo para viver.

Thursday, March 17, 2011

Noite


No teu silêncio acordo, cansada, com sono, mas não consigo dormir.
Trazes a mim as dúvidas, os medos, as inseguranças.
És como um lago transparente, mas em que me vejo espelhada,
e o que vejo é a imagem trémula de mim.
És tu que trazes os sinais subliminares do que não está bem,
do que é preciso cuidar.
Temo-te por não querer ouvir. Por querer adormecer, descansar.
Se ao menos trouxesses um anjo para me abraçar…

Friday, March 11, 2011

Ainda pensas em mim?

É essa a dúvida que percorre o meu corpo
Corroi a minha mente
Invade toda a minha existência
E não me deixa dormir.

É esta a questão cuja resposta preciso.
Preciso de um não.

Na embriaguez do meu corpo
Espelho a minha alma.
No beco que representas,
Vejo o fosso que é a tua presença, a tua ausência, a tua existência.

Tuesday, March 8, 2011

O tempo

O tempo foge de nós.
Quando damos conta, passaram 10 anos, 20, 30... Os nossos sonhos perdem-se no caminho, e no fim da linha, já nem nos lembraremos de muitos, a não ser que estejam registados. Até porque os nossos sonhos também mudam. Moldam-se em função do tempo.
Não há nada que possamos fazer para evitar essa fatalidade. Pior, o tempo corre mais quanto melhor for passado...
O tempo não pode ser mudado. Felizmente, ainda é algo que não está ao alcance de nenhum ser humano. Pode ser programado, planeado, previsto, mas não mudado. Pelo menos aí há justiça e igualdade.
Uma hora é uma hora... nada mais matemático. Mas o tempo psicológico é muito mais. Há horas que parecem segundos, e horas que parecem dias...
Eu prefiro viver a vida num ápice. Olhar para trás e pensar que o tempo passou velozmente. E passou, de facto.
Estarão passados os anos mais cândidos, mais alegres e mais despreocupados? Espero que não... Vou continuar a procurar essa candura, a doçura dos dias amenos ao som de sorrisos e ternuras.

Sunday, February 27, 2011

Novo capítulo

Finalmente acabou o pesadelo...
Não me apetece escrever nem falar sobre isso, pelo menos agora.
Quero apenas registar.

Monday, February 14, 2011

Silêncio

Procuro um lugar em silêncio.
Viro ao fundo da rua, e por entre as sombras dos morcegos a passar, fugindo dos candelabros, ouço passos. Sigo em frente, não olho para trás, e ouço um gato a fugir de mim. Ele foge, e eu?
Continuo, e a chuva começa a arrefecer-me o corpo. Fico fria, por fora e por dentro, e a pele arrepia-se para não deixar sair mais calor. Porquê? Não posso gelar?
Ando e ando, horas depois. Meses depois, cansada, deito-me nos bancos frios e molhados do jardim. Continua a chover. A chuva a cair lava-me as lágrimas e a alma. Ajuda-me a encontrar o silêncio gelado que procuro. O meu corpo gela finalmente, e a lua abraça-me num sonho.
Acordo, e o meu corpo já seco arrepia-se com os raios de sol. Os meus olhos, enxutos, estranham a luz, mas sorriem. Levanto-me, e continuo em busca de um lugar em silêncio...

Thursday, February 10, 2011

Noite

É na noite que te quero
É aí que me abraças
No seu silêncio me perco
A cada gesto que faças.

Adormeço a ouvir-te
Nos teus braços sou criança
É a ti que quero ali
Só a ti, sempre a ti.

Não adormeço,
A preciosidade não permite
O teu cheiro é insenso
Que o claro dia não admite.

É no dia que desvanece
A saudade fica, suave, e aquece.
É no dia que o frio vem
Acordo, e não vejo ninguém.

Laivos

Laivos de prazer,
rasgos de desejo,
vício de sofrer.

Laivos de paixão,
desejos de te ter,
como só contigo as noites são.

Laivos viciantes,
marcas indeléveis,
vício de amar de dois amantes.

Laivos silenciosos
vontade sufocante
gritos lacrimosos
como uma lâmina, és acutilante.

Amar é Pensar

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro, in "O Pastor Amoroso"

Thursday, January 27, 2011

Voltar

Quero esquecer-te.
Quero apaixonar-me, mas não por ti.
Quero apaixonar-me, para não te sentir. Nunca mais.
Esfrego-te do meu corpo
Rasgo-te da minha mente
Queimo-te das memórias.
Esfrego até a pele sair, o sangue esvair, o mundo acabar.
Queimo-te até a cinza queimar.
Rasgo-te até ao pó, até soprar e voares.
Como podes voltar?!

Voltas

Voltas, e trazes contigo a tua doçura
Trazes a saudade de te ver, de te ouvir, de te ter
Sentir-te leva-me ao limiar da loucura.

Vejo-te, sonho-te, lembro-te
Amo-te em pensamento.
Escrevo-te para te esquecer, ou para te eternizar?

Não saias... fica mais um pouco
Deita-te ao meu lado, e aconchega-me.
Beija-me o pescoço, solta-me o cabelo,
Dança-me com o teu corpo, abraça-me, e adormece-me.

Escolhe-me para ti, leva-me pela mão.
Envolve-me no teu colo, e aquece-me.
A noite é logo ali, somos nós, ali.

Wednesday, January 26, 2011

Mar

Verde é o teu olhar, como o mar,
Mar é o teu mundo, sem um fundo.
Doce é o teu cheiro, ao amar,
doce é o teu mundo, moribundo.

Conto...

Conto o tempo,
Conto aos outros,
Conto o tempo a passar,
Conto aos outros que passaste.
Conto as batidas do relógio, o silêncio da tua ausência.
Conto o teu silêncio, é longo...
Conto as memórias e as vezes em que tive vontade de te amar.
Conto os dias do meu silêncio, e os dias em que não deixo de pensar.
Conto a mim mesma histórias de encantar.
Conto que não, porque sim, porque a vida é assim.
Conto o que quero, invento o que conto, escrevo um conto.
Conto com o tempo, pelo tempo fora, há tanto tempo...

Monday, January 24, 2011

Relativizar

Significado: Considerar (algo) sob um ponto de vista relativo e não absoluto.

Por vezes é necessário relativizar...
a sorte, o azar, os sentimentos, a dor.
Alguém me disse um dia: Quando achares que os teus problemas são graves, faz o seguinte exercíco:
Numa gôndola, existem papéis com todos os problemas possíveis no universo, cada um deles (os que consegues imaginar, e os que nem te passam pela cabeça). Escreve os teus problemas num papel e mistura-o com os outros. Agora, retira um papel ao acaso.
Arriscarias?

Até hoje, em dias assim, imagino este cenário, e minha resposta foi sempre não arriscar.
Não conheço melhor forma de relativizar...

Wednesday, January 19, 2011

Nuvens

Acordei novamente, e pareceu-me teres partido. No emaranhado dos meus pensamentos, não estavas. Provei as tuas memórias, e não tinham sabor. Ou melhor, um ligeiro sabor amargo.
Levantei-me e segui caminho. Subi os degraus, um por um, e continuei sem te ver. Observei em toda a volta, e o dia estava cinzento, não escuro, apenas cinzento.
O sol não vinha, mas também não chovia. Os pássaros não davam sinal de presença e as folhas no chão não se arrastavam.
Estava tudo em silêncio.
Por entre as sombras das árvores que chegavam ao céu, vi as nuvens a caminhar. Em silêncio, seguiam viagem para outro destino. Aos poucos, deixei de as ver. Eu sei que elas continuam viagem, mas deixei de as conseguir ver.

Sunday, January 16, 2011

de regresso

Chegas sem contar
e fazes da minha mente a tua casa
o meu corpo é espaço vazio que tu habitas
Com as mãos sufocas-me e invades-me.
Não te quero sentir.
Quero dormir em paz, sentir que o silêncio da noite é o meu corpo.
A serenidade é uma luz que quero presente.
Invades toda a gente. E ninguém te quer.
O teu nome é solidão.

Thursday, January 6, 2011

de cara lavada

No quinto ano de existência deste blog, fiz-lhe a primeira mudança de visual. Sim, a primeira, pois provavelmente, dentro de mais cinco anos irei querer uma coisa diferente :)

Hoje fiz também uma coisa que há muito não fazia, e por muito, entenda-se um década!
Num tempo em que não se houve falar de nada além de crise, resolvi voltar a dar um contributo positivo para melhorar um pouco (pouquinho mesmo) o mundo que me rodeia.
E com o instinto maternal a despertar, nada melhor do que dar alguma atenção a crianças cujas famílias deixam algo a desejar em termos de cuidados diários.
Tenho já a certeza que irei aprender mais com elas do que elas comigo, mas faço um esforço :)
E se todos parassemos de falar de crise, e trabalhassemos para melhorar as coisas às nossa volta? Gostava de ver o resultado final...

Saturday, January 1, 2011

Ano velho...

Não é meu hábito fazer resoluções de ano novo ou grandes reflexões sobre o ano que termina.
Nem sequer é meu hábito delinear mentalmente o segundo em que muda a página do calendário. No entanto, neste ano, não consegui deixar de o fazer. E com muito gosto.
Acontece que o ano 2010 foi um ano anormalmente (espero) mau, e cujo término me deixa muito contente. Ilusoriamente ou não, saber que este ano chegou ao fim, é um alívio. E por consequência, a única resolução de ano novo passa por ter um ano melhor que o anterior, e digamos que não deverá ser pedir muito. A verdade é que, com depressões constantes nos meios de comunicação e em tudo à nossa volta, torna-se necessária uma força hiperbólica para atingir o mesmo que em outras conjunturas.
Da minha parte, tudo farei para que seja melhor. Prometi a mim mesma ser proactiva na conquista dos meus objectivos... espero que uma gotinha da poção da sorte esteja presente...
Feliz ano novo!