Sunday, December 25, 2011

Natal

Aproximava-se, e eu fazia de conta que não o via chegar. Vai a passar por mim, de frente na rua, e eu olho para o lado, muito interessada na montra de flores e arranjos, e distraída como sou, é fácil acreditar que não o vi.
Vou a sair do trabalho, para mais um fim-de-semana, e só quero descansar. Sou forçada a participar numa manifestação de boas festas digna de um óscar. Participo, como se fosse paga, e desempenho. Ufa! Acabou. Saio finalmente, fecho porta, ligo alarme, e penso: finalmente em paz!
Chego a casa, de pantufas e roupão, deito-me a ver televisão. Estou cansada, não gosto da programação, e adormeço. Acordo, em sobressalto, com o telemóvel. Percebo, e fico a ouvir Pink Floyd até se cansar de tocar. Pára. Volta a tocar, e penso, vou retirar o som. Depois penso, mas vou ter que devolver chamadas e gastar dinheiro. Deixa ver... Mais boas festas e natais felizes. E penso então que não posso fazer de conta que não o vejo, não para sempre.
Nunca gostei dele, mas agora nutro ódio.
No Natal, quem é pobre, sente-se mais pobre. Quem está triste, sente-se mais triste. Quem está só, sente-se mais só. Quem está doente, sente-se pior. Só mesmo a espécie humana para ter a capacidade de criar uma comemoração mãe, em que todos os desafortunados se sentem mais desafortunados.
Mais uma vez, porquê tanta necessidade de partilha e generosidade nesta época? Será por sabermos o mal que ela faz a alguns?

Sunday, December 11, 2011

Lá fora os carros buzinam incessantemente. Na rua que digo ser minha, não estou habituada. Provoca-me um nervoso miudinho, que se agrava, ao fim de meia-hora. O Domingo quer-se sossegado, e o silêncio deveria ser obrigatório e sagrado. Faz-se uma corrida, cortam-se ruas sem alertar, porque a estrada é pública, e portanto, alguém considera isso sensato, ou então, alguém se esqueceu de pensar nisso. A liberdade acaba onde começa a dos outros. E neste momento, a minha liberdade está condicionada ao nervoso miudinho provocado pelos condutores enervados que buzinam como se a corrida fosse terminar por isso, provocado pelo fulano que cortou a minha estrada ( e daquelas pessoas todas) sem avisar.
Sensível, ah?
Sinto saudades de me apaixonar. Saudade de me entusiasmar com o telefone a tocar, a hora que nunca mais chega, o tempo que só passa quando estamos juntos.
Saudades de sentir que é realmente “ali” que quero estar. Com aquela pessoa. E parece que então, o mundo faz sentido, e a vida é doce e entusiasmante, de uma forma única.
A sensação dos braços que são o melhor lugar do mundo para se estar, os reencontros, as descobertas apaixonantes. As memórias repetidas como que em película de cinema, com fast and forward, vezes e vezes sem conta. E cada uma delas provoca um aperto, duma intensidade e sabor únicos, a cada repetição.
E parece que o tempo nunca é demais, e só se olha para o relógio para tentar ficar mais um pouco.
As promessas, os olhares intensos, os sorrisos cúmplices, e as soluções para tudo, enquanto houver vida.
Nesse tempo, o passado não tem presença, e por isso, os medos e fantasmas não têm lugar.
Disso, não consigo abdicar.

Sunday, December 4, 2011

Fica mais um pouco

Parece que toda a gente acha bem termos uma vida social, sim, porque somos seres sociais e a sociedade faz-nos falta. Mas mesmo que tentemos, não iremos conseguir deixar de ter vida social. Não podemos viver numa caverna.
Mas que raio de vida social é esta, das noites nos bares, com música berrante, fumo intoxicante, vestidos reluzentes e ninguém a falar com ninguém? E ficamos mais um pouco, porque ainda é cedo para ir para casa. É cedo para acabar com uma coisa que não dá prazer nenhum, e com a qual não ganhamos nada. Não percebo. E fico mais um pouco e tento perceber a motivação de quem me pede para ficar mais um pouco. Olho à volta, e toda a gente olha à volta. Depois cruzam-se uns olhares, de pessoas que nunca vou querer conhecer, pois não gosto de pessoas que se vestem daquela forma. Não sei como sei, talvez por associação a outras pessoas que tive de conhecer, e que se vestiam daquela forma.
Penso no que gostaria realmente de estar a fazer. Várias coisas, mas essencialmente a dormir. É tarde, tenho sono, frio, e detesto o cheiro a cigarro. Podia estar a dormir.
Espero mais um pouco e olho para o copo da bebida que já terminei. Não quero outra, porque quero estar preparada para ir embora, e pedir outra bebida iria comprometer-me em mais meia hora, pelo menos.
Olho à volta, e penso nas reais motivações para estar ali. As pessoas dizem que só saindo conhecermos pessoas novas. E parece que quero conhecer pessoas novas. Na realidade não quero, até porque não aprecio assim tanto as pessoas no geral. Quero conhecer alguém, como a maioria das pessoas que ali está. Aquela pessoa em particular com quem vamos querer partilhar a vida. E como é que isso se faz? Ao que parece é saindo… Pois, em casa, só se for o homem das pizzas.